A essa altura, todos devem saber que o Android é open-source, ou, para quem prefere o uso do jargão em português, ele tem seu código aberto. Isso significa que qualquer um pode livremente modificar seu código, aparência, funcionalidades. Basicamente, você pode fazer o que quiser com o software do Google sem pagar um centavo, e a empresa não pode fazer nada contra isso. Mas como transformar isso em um negócio lucrativo, então?
Não entenda errado: o Android é lucrativo, e não é pouco. Mas para transformar seu sistema operacional em dinheiro, o Google precisa recorrer a métodos de monetização que nem sempre ficam claros para a maioria dos usuários. Por isso, vamos explicar a seguir detalhadamente o modelo de negócios:
Licenciamento
Existe algo chamado AOSP (Android Open-Source Project), que é a alma do sistema operacional. É o software puro desenvolvido pelo Google, que tem seu código liberado e é livre para ser adaptado pelas fabricantes e dá origem a toda a diversidade de produtos com Android que conhecemos hoje.
No entanto, o trabalho do Google não para por aí. Embora qualquer um possa fazer o que quiser com o Android, as fabricantes ainda precisam da permissão da empresa para poder oferecer seus dispositivos com os apps do Google de fábrica. Gmail, YouTube, Maps, entre outros, não adotam a mesma política de código aberto, e só podem ser distribuídos mediante um acordo de licenciamento que representa dinheiro entrando nos cofres da empresa de buscas.
Mas nenhum dos aplicativos é tão importante quanto a Play Store, que é o que faz as empresas realmente colocarem dinheiro no Android, com a diversidade de aplicativos oferecidos na loja. O app não é importante apenas para as fabricantes, mas também para o próprio Google, representando um dos métodos mais importantes de monetização do Android.
Google Play Store
A loja de aplicativos é importante por várias razões, a mais básica delas é que o Google tira uma fatia de 30% de cada compra de aplicativo feita por meio dela. Quando você paga R$ 2 em algum jogo para Android, R$ 1,40 ficam com o desenvolvedor e R$ 0,60 vão para os cofres do Google.
Mas não é só quando o usuário tira dinheiro do bolso que o Google fatura. Até os aplicativos grátis da loja se tornam receita, porque a empresa exige um pagamento de US$ 25 para cada desenvolvedor que se registra para publicar seus apps na loja. Além disso, quando algum app gera receitas por meio da exibição de publicidade, a empresa também tira sua fatia; o mesmo acontece quando há transações internas dentro do jogo ou aplicativo.
Por que desenvolvedores se sujeitam a isso? Porque é a forma mais fácil de tornar seu aplicativo acessível para todos os públicos. O Google Play também permite que os aplicativos se mantenham sempre atualizados com facilidade.
Publicidade
O Google é uma empresa de tecnologia tanto quanto é uma empresa de publicidade. Alguns argumentam que um ramo seria maior que o outro, mas o fato é que a empresa investe em ambos. Quem faz a empresa ser o gigante que é hoje, no entanto, é a onipresença em relação aos anúncios de internet.
O Android é primordial para a empresa continuar expandindo seu modelo de publicidade. O celular permite ao Google saber onde você está e sugerir um novo local que você talvez tenha o interesse em conhecer, por exemplo. Em muitos casos, este estabelecimento pagou para o Google divulgá-lo para seus usuários.
Mas nem sempre fica tão claro. Você já deve saber que o Google utiliza suas informações para direcionar anúncios que possam ser mais relevantes para você. Com o celular no seu bolso, a empresa tem acesso a muito mais dados seus do que num desktop, o que torna a publicidade do Google mais valiosa.
O Android tem o registro dos lugares aonde você costuma ir, das suas atividades preferidas, dos seus aplicativos favoritos, das buscas que você costuma fazer e, consequentemente, seus interesses, e tantas outras informações que acabam sendo preciosíssimas para os anunciantes.
Riscos
Por ser open-source, o Google corre o risco real, mas improvável, de ter o Android roubado de suas mãos. Não há nenhuma barreira técnica ou legal que impeça um grupo de desenvolvedores de criar um “fork” (termo usado quando um projeto de código aberto se divide em dois ramos distintos) que acabe superando a popularidade do software do Google.
Já há algumas empresas que representam uma ameaça ao modelo de negócios do Google com o Android.
Uma delas é a Cyanogen, que era apenas um grupo de entusiastas que criou uma ROM customizada do sistema com recursos que não existiam no software original; hoje se trata de uma das startups mais relevantes da área de mobilidade, recebendo investimentos milionários. A Cyanogen não tem obrigação de usar o buscador do Google, não precisa pré-instalar a Google Play Store... em resumo, ela não gera um único centavo para o Google para usar o Android.
Outro caso é o da Xiaomi. A fabricante chinesa ganhou relevância nos últimos anos utilizando o MIUI, sua própria versão altamente modificada do Android, que também não tem nenhum vínculo com o Google. Se você observar o MIUI, sua interface lembra mais a do iOS do que a do próprio Android.
A empresa da China não pré-instala Gmail, Google+, Maps, Google Play nem nada parecido em seus celulares, muito graças às restrições enfrentadas pelo Google no país. No entanto, a startup já é a terceira maior fabricante de smartphones no mundo e a tendência de crescimento com a expansão para outros países é uma ameaça.
Não dá para esquecer também da gigante Amazon. Sua linha Fire de tablets também lança mão de uma versão altamente modificada do Android, num caso típico de "fork".
VIA: olhar digital
DEIXAR COMENTARIO